04 fevereiro, 2010

A velhice...


"Por oposição aos gerontologistas , que analisam a velhice como um processo biológico , me interesso pela velhice como um acontecimento estético .


A metáfora mais bonita que conheço para a velhice é o crepúsculo , o pôr - do - sol .

O crepúsculo é lindo . Faz pensar .

No crepúsculo tomamos consciência da rapidez do tempo ...

No crepúsculo sentimos o tempo fluir rapidamente .

Por isso muitas pessoas tem medo dele .

A famosa “ happy hour ” foi inventada como terapia para a tristeza do crepúsculo ...

A juventude eterna , que é o padrão estético dominante em nossa sociedade , pertence à estética das manhãs .

As manhãs tem uma beleza única que lhes é própria . Mas o crepúsculo tem um outro tipo de beleza , totalmente diferente da beleza das manhãs .

A beleza do crepúsculo é tranqüila , silenciosa , talvez solitária .

No crepúsculo , tomamos consciência do tempo .

Nas manhãs , o céu é como um mar azul , imóvel .

Nos crepúsculos , as cores se põem em movimento :

o azul vira verde , o verde vira amarelo ,

o amarelo vira abóbora ,

o abóbora vira vermelho , o vermelho vira roxo , tudo rapidamente .

Ao sentir a passagem do tempo , nós nos apercebemos de que é preciso viver o momento intensamente .


Tempus fugit - o tempo foge - portanto , Carpe diem - colha o dia.


No crepúsculo , sabemos que a noite está chegando.

Na velhice sabemos que a morte está chegando .

E isto nos torna mais sábios e nos faz degustar cada momento como uma alegria única .

Quem sabe que está vivendo a despedida olha para a vida com olhos mais ternos ...”

Rubem Alves

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